A Turma da Mônica e Eu

Série de crônicas por Severino Rodrigues

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No mês passado, mais exatamente no dia 27 de outubro, um grande brasileiro fez aniversário. E completou 80 anos. Seu nome: Mauricio de Sousa.
E não. Não estou exagerando. O Mauricio criou os personagens mais conhecidos do quadrinho nacional e as mais divertidas e inesquecíveis histórias. Inicialmente, todas desenvolvidas por ele. Depois, uma equipe de roteiristas e ilustradores passaram também a inventar outras criativas e igualmente queridas aventuras com a turma do Limoeiro.
Lembro, perfeitamente, certo dia em que pedi ao meu pai algumas revistinhas da Turma da Mônica. No papel, escrevi em cada linha o nome dos cinco personagens principais: Mônica, Cebolinha, Cascão, Magali e Chico Bento. Queria um gibi de cada um. E qual a minha alegria ao ganhar os cinco exemplares! Naquela época, longe de qualquer possibilidade de assinatura, aquelas cinco revistinhas eram, para mim, o equivalente a uma verdadeira biblioteca de quadrinhos. E curiosidade: tenho todas bem guardadinhas até hoje.
(Pausa. Fui procurar para me certificar do que disse acima e sumiu a do Cascão. Depois vou revirar as estantes em busca dela. Voltemos.)
Na época, a revistinha do Cebolinha veio com um furo que perpassava todas as páginas. Foi feito para pendurar os gibis numa haste? Se a ideia foi essa, não deu certo; pois, obviamente, cortou algumas letras de algumas palavras do primeiro balão do primeiro quadrinho de todas as páginas. Mas era um desafio completar as palavras. Dessa revista, também recordo com carinho a aventura na ilha dos Homens-Pássaros. Uma das minhas preferidas até hoje. Franjinha constrói um submarino e, ao lado do Cebolinha, que para variar estava fugindo da Mônica, sai por um rio, atravessa o mar e chega à ilha onde encontra uma fórmula/bebida mágica que possibilita ao homem voar.
A revista do Chico Bento, na verdade um almanaque, sofreu um acidente. Certa vez, quando levei-a para a casa do meu avô uma prima pequena da minha prima rasgou algumas páginas. E como a única fita no momento disponível era uma isolante, aquela de cor preta, foi a utilizada para reparar o estrago. Bem… Alguns personagens sumiram com esse conserto, mas os balões permaneceram intactos para a leitura. Na primeira história desse almanaque, o Chico Bento dormiu tanto durante a aula que foi escorrendo da cadeira até o chão. Só acordou depois que todo mundo foi embora. Coisas do Chico.
Anos depois, mais velho, depois de outras revistas e de acompanhar várias episódios animados da turma na tevê e em VHS (Eita! Como tô velho!), cheguei a tentar, ou melhor, cogitar a possibilidade de me tornar roteirista da mais famosa turma de amigos brasileira. Há alguns anos abriram algo como uma seleção. Mas o roteiro de HQ exige o envio de “rafes”, uma espécie de rascunho em que, pelo menos, certa expressão fácil e de posicionamento do corpo estejam marcados. Meu talento é com a palavra. Sou zero no quesito imagem. Acabei desistindo. Por hora, vou sendo apenas leitor mesmo da turminha.
Mas agora, folheando novamente essas revistas, me deparo com uma história incrível da Mônica. Uma sobre a influência dos amigos no comportamento das pessoas. A mãe da Mônica, a princípio, reclama com ela por repetir alguns modos, digamos, negativos dos seus amigos. Mas, a seguir, ela percebe que a filha também aprendeu boas maneiras com eles. E isso é o mais importante.
A gente também aprende/aprendeu muita coisa boa com a turma. Com o Chico Bento, que viver a vida de modo mais ingênuo é muito mais engraçado; com o Cascão, que fugir da rotina (metaforizado pelo banho?) significa a liberdade para curtir muitas aventuras; com a Magali, que comer e ser feliz são sinônimos; com o Cebolinha, que devemos sempre inventar novos planos infalíveis se alguns antes não deram certo; e, com a Mônica, que somos nós mesmos que devemos resolver nossos próprios problemas.
Essa é a turminha que marca a infância de praticamente todos os brasileiros, nos divertindo e nos formando. Formando sim, pois quadrinho é arte e arte também educa. Por isso tudo, só há uma maneira de concluir esta crônica, agradecendo: Muito obrigado, Mauricio!

misterioO autor Severino Rodrigues é escritor, professor e mestrando em Letras pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Publicou pela Cortez Editora os livros: Sequestro em Urbana, 2013, e Mistérios em Verdejantes, 2015.