Pequena grande contadora de histórias

No Dia do Leitor o exemplo de Tati é um bom motivo para acreditarmos nas crianças como futuros multiplicadores do prazer de ler e influenciar leitores

Contadora voluntária do Programa Leitura Viva Espaço Educar, Tati se apresentou no projeto Ler é Minha Praia

Contadora voluntária do Programa Leitura Viva Espaço Educar, Tati se apresentou para leitores do projeto Ler é Minha Praia

Por Claudia Lins

Ela tem apenas 7 anos, mas encara o ato de contar histórias com um profissionalismo capaz de impressionar muitos adultos. Voluntária do projeto Pequenos Contadores, Grandes Histórias, ação integrante do Programa Leitura Viva Espaço Educar, Tatiana Castro Cavalcante se apresentou durante duas edições do Ler é Minha Praia, realizado na orla de  Maceió, e entusiasmou leitores de todas as idades com suas performances literárias.

No domingo 4 de janeiro, ela foi a rua fechada da Ponta Verde com a mãe e a irmã para conferir as atrações do projeto Ler é Minha Praia. Naquele dia não estava na programação oficial do evento, mesmo assim aceitou o convite para se apresentar para as crianças que ali estavam. Antes de subir ao palco e contar uma história, pediu tempo para se preparar. Procurou no estande da feira de livros um título que fosse adequado a idade do público e escolheu o livro Deu Tatu no meu Quintal, da autora Flávia Côrtes, publicado pela Cortez Editora.

Estava um pouquinho nervosa, mas de um jeito que apenas os que a conhecem podiam perceber. Para as crianças que a assistiam, ela apresentou o livro e a história do modo especial que sempre faz quando conta uma história. Tati, como é carinhosamente chamada por todos, não conta histórias sem a presença inseparável do livro. Também não lê o que está contando, ela memoriza toda a história e segue narrando as cenas ao mesmo tempo em que passa as páginas para que o público possa ver o que está contando.

Ver alguém tão pequeno dedicar ao livro e a leitura um carinho imenso é cena difícil de esquecer, especialmente para quem vive cotidianamente o desejo de encantar leitores. Por isso, dessa vez não resisti, e pedi para entrevistá-la quando a história terminou. Perguntei se ela já conhecia o livro e fiquei surpresa ao saber que não, mas que mesmo assim tinha conseguido memorizar em tão pouco tempo aquela história e contá-la com a maior segurança do mundo.

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Como é que você faz quando vai contar uma história? Perguntei, tentando saber como aquela pessoinha tão jovem se revelava uma contadora tão segura em suas apresentações.

“Leio o livro várias vezes, até saber a história todinha”, respondeu Tati, com a simplicidade das frases curtas que as crianças sabem usar com maestria. Na mesma hora compreendemos seu nervosismo, pois contar uma história sem preparação é algo que ela não recomenda. Disse que se sente mais segura conhecendo bem o livro que irá apresentar. Pontos para ela, é isso o que nos ensinam os especialistas em contação de histórias!

Continuei a entrevista, porque percebi o público tão interessado quanto eu na história daquela pequena leitora e  grande contadora.

Tati disse que ama ler e só no ano passado leu tantos livros, que nem sabia contar quantos. Imaginem, com apenas sete anos ela já vai nesse entusiasmo todo!!!

Seu livro preferido foi o da menina que perdeu o sorriso. Pedi que recontasse para as crianças e a história resumida entrou na conversa como se o livro ali também estivesse. Ao final do bate-papo perguntei se ela acreditava que seguiria na vida adulta sendo uma contadora de histórias. Tati respondeu que era possível, mas ainda não sabe o que quer ser quando crescer. Só o que sabe é que vai continuar lendo, sempre.

Confesso que o meu coração transbordou de alegria ao ouvi-la dizer isso e desde aquele domingo não deixei de pensar no exemplo de Tati. Quisera poder compartilhar sua história com muitas outras pessoas, talvez por isso escrevo sobre ela hoje, nesse dia do leitor, mesmo sabendo assim como ela, que para os que amam ler, todo dia é dia.

Mas Tati me faz pensar no prazeroso desafio de todos nós, formadores de leitores, educadores, pais, mães, pessoas…

Compartilhar exemplos de leitura, presentear livros, falar de livros e leitura, conhecer autores e novas histórias e nos prepararmos antes de contar essas histórias para alguém… São a partir desses simples e inesquecíveis momentos que construímos um país de leitores. Todos os dias. Porque a magia dos livros e a emoção de ouvir ou contar uma história seguirá conosco por toda vida. Não importa a idade, tempo ou lugar onde estivermos vivendo.

 

* Claudia Lins é autora de livros infantis, jornalista e atua como formadora de leitores no Programa Leitura Viva Espaço Educar, premiado em 2014 pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), como o melhor programa de icentivo à leitura do Brasil.

Tatiana cursará o 3º ano do Ensino Fundamental na Escola Espaço Educar em 2015. Ela é frequentadora assídua da Biblioteca Educar e desde 2014 conta histórias para outras crianças como voluntária do projeto Pequenos Contadores, Grandes Histórias.

 


1 comentário

  1. Esse projeto já está dando frutos. A irmã mais nova de Tatiana, Camila, diz não ver a hora de participar também como contadora de histórias. É uma linda e maravilhosa influência. Que muitas crianças tenham o mesmo desejo e amem a leitura.