“Meio ambiente não é sinônimo de fauna e flora. Somos nós, o meio que nos cerca e as relações que estabelecemos com esse meio”, André Trigueiro
Por Claudia Lins
Biodiversidade, mundo sustentável e convivência harmônica com o planeta são temas sempre em pauta para o jornalista André Trigueiro. Criador da disciplina de Jornalismo Ambiental do curso de Comunicação Social da PUC do Rio de Janeiro, apresentador e editor de programas sobre meio ambiente, ele faz palestra na Bienal de Alagoas, sobre o livro Ecologia e Espiritismo, publicação editada pela Federação Espírita Brasileira – FEB.
Do Rio de Janeiro, o escritor concedeu essa entrevista ao portal Mundo Leitura.
Mundo Leitura: Para começar, que tal responder a uma pergunta do seu próprio livro: o que o Espiritismo e a Ecologia têm em comum?
André Trigueiro: Procuro demonstrar como os movimentos ecológicos e espíritas são convergentes na defesa de uma nova ética, mais solidária, que promove valores de bem comum, da coletividade. É interessante observar como está presente nesses movimentos uma predisposição a repensar modelos, já que ambos não estão conformados com o mundo do jeito que ele está. A doutrina espírita, embora tenha nascido na França, é mais forte no Brasil. Somos a maior nação espírita do planeta. E, curiosamente, a maior potência megabiodiversa também.
Mundo Leitura: Como espírita e jornalista, que mensagem desejou comunicar com esse livro?
André Trigueiro: Onde se aceita a idéia de Deus, a natureza é entendida como obra divina, onde o sagrado se manifesta de forma rica e exuberante. Depredar a natureza significa macular um sistema em equilíbrio que dispõe de tudo o que nos é necessário para que possamos viver bem. De uns tempos para cá, diversas tradições vem descobrindo a riqueza da teologia ambiental para explicar, cada qual a seu modo, como as leis que regem a vida e o universo precisam ser respeitadas em favor de nós mesmos. Não estamos desconectados do meio que nos cerca. Na verdade, essa ligação é intrínseca e visceral. Se equilíbrio é sinônimo de sustentabilidade, quem busca o equilíbrio através da religião precisa ser sustentável.
Mundo Leitura: Antes de criar a disciplina de Jornalismo Ambiental, qual era a identificação do repórter André com o tema meio ambiente?
André Trigueiro: Nasci, moro e trabalho no Rio de Janeiro que é uma cidade de natureza deslumbrante que nos excita os sentidos nesta direção. Cobri a Rio-92, fiz pós-graduação em gestão ambiental pela UFRJ e construi minha vida buscando (como continuo fazendo até hoje) informação nesta fascinante área do conhecimento. Meio ambiente não é sinônimo de fauna e flora. Somos nós, o meio que nos cerca e as relações que estabelecemos com esse meio. Quem fala de meio ambiente está preocupado com o modelo de desenvolvimento, o projeto de civilização que promova um mundo melhor e mais justo.
Mundo Leitura: Conte-nos como começou sua hitória com a ecologia?
André Trigueiro: Desde que me conheço por gente me sinto identificado com o tema de diferentes maneiras. Não é uma relação apenas pessoal ou profissional. É espiritual mesmo.
Mundo Leitura: Partindo de suas experiências jornalísticas como editor do programa Cidades e Soluções e comentarista do Mundo Sustentável, o que esses caminhos te revelam?
André Trigueiro: Que precisamos sair da zona de conforto em que nos encontramos para livrar o mundo em que vivemos dos cenários sombrios que se desenham no horizonte. A crise ambiental tem a nossa digital, o nosso DNA. Somos parte do problema, e precisamos ser parte da solução.
Mundo Leitura: Que tal a cobertura que a imprensa brasileira realiza hoje, lidando com temas ambientais? Onde estamos acertando, onde precisamos melhorar, e como vê o surgimento de novas correntes dentro do jornalismo voltadas a questões dessa temática?
André Trigueiro: Estamos melhores do que já estivemos, e aquém do que poderia ser considerado um nível ideal. Há um processo em curso. Mas estudante de jornalismo que passa quatro anos na faculdade e encerra esse ciclo de aprendizagem sem ter tido qualquer contato com os assuntos da sustentabilidade, é analfabeto ambiental. Não está totalmente preparado para cumprir a sua função social num mundo que experimenta uma crise ambiental sem precedentes na História da humanidade.
Mundo Leitura: Como leitor, como considera a participação da literatura espírita no mercado editorial brasileiro? Novas abordagens, temas contemporâneos, o que esse momento esse representa?
André Trigueiro: Há um bom mercado para os livros espíritas. A doutrina vem crescendo e se popularizando sem ter em seus postulados o proselitismo como meta. meu livro, por exemplo, não tem a pretensão de converter ninguém. Boa parte do que escrevi não tem nenhuma relação com a doutrina espírita, mas com as ciências ambientais. Certa vez, um amigo meu ateu esteve presente em um debate sobre o livro e apareceu depois na fila de autógrafos com cinco exemplares nas mãos para levar de presente para amigos dele. Brinquei com ele perguntando se havia mudado de posição em relação ao ateísmo. Ele respondeu que não, mas que o livro era muito interessante(rs).
Mundo Leitura: Antes de terminar, nossa curiosidade sobre o André leitor, quais os gêneros que prefere, que livro está lendo no momento, autores que destacaria e por quais razões…
André Trigueiro: Livros que versem sobre assuntos científicos, filosóficos ou questões da espiritualidade. Estou lendo neste momento “Diálogos sobre Fé e Ciência”, de Frei Betto e Marcelo Gleiser, coordenado por Valdemar Falcão. Gosto muito de Leonardo Boff, Divaldo Franco, James Lovelock, Fritjof Capra e Henri Thoreau.
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