O coração de um contador

Por Camilla Cahet

“Contar história é compartilhar memórias, sonhos, desejos. Não tem como ser imune a essa atividade, a história exige uma entrega total. É uma relação de amor”. A emoção das palavras de Giba Pedroza é facilmente sentida pelos que ouvem suas contações. O escritor e contador de histórias envolve crianças e adultos em uma narrativa repleta de sentimentos e magia.

"Um contador bebe a história nos olhos de quem ouve”, Giba Pedroza

Pesquisador de Literatura infantil e tradição oral, Pedroza realiza há vinte anos a sublime atividade de contar e encantar. “Oficialmente comecei como escritor, mas com cinco anos já gostava de contar as histórias que lia e ouvia”, relata ele.

Diferente da maioria dos contadores, que usam fantoches, fantasias e maquiagens, Giba não utiliza adereços para atrair a atenção da plateia, todo o encantamento é transmitido através da troca de afeto entre o contador e o público. “Não critico as várias maneiras de se contar histórias, penso que toda forma é válida. Já contei com bailarinos, músicos e artistas plásticos, mas resolvi aderir ao método da cara limpa. O contador pode usar bonecos e instrumentos musicais, mas ele tem que saber que o contar não é atuar. Quem conta tem que permitir o envolvimento, se emocionar mesmo. Um contador bebe a história nos olhos de quem ouve”, destaca.

Engana-se quem pensa que ouvir história é coisa apenas de criança, essa forma de comunicação atrativa e expressão da arte desperta as lembranças de quem já não é mais tão pequeno, e mostra-se necessária ao estímulo da sensibilidade. Apesar de alguns adultos não assumirem, os mitos primários presentes nos contos despertam, em todos, a curiosidade pelo mundo do desconhecido.

“Contar história é um ritual sério e não pertence apenas ao universo infantil. Cada conto tem o poder de mexer com o imaginário, tanto das crianças como dos adultos. A imaginação não cessa quando crescemos. Entendo que a nossa relação com o tempo é difícil, mas é preciso brincar, contar e ouvir histórias. E isso não tem idade”, afirma o contador.

Admirador dos contos de fadas e causos de viola, Giba Pedroza cresceu envolvido no mundo mágico da Literatura de Monteiro Lobato e nos cantos de sua avó. “Quando resolvi ser contador profissional, comecei a pesquisar e ler muita coisa de psicologia. Mas depois percebi que a base que precisava estava bem próxima, era a memória da minha infância, a lembrança das músicas que minha avó cantava, os causos que ouvia e a magia das obras de Lobato, que tanto estimularam minha criatividade”.

Nos últimos anos, os contadores de histórias foram se multiplicando, resultado do crescimento de oficinas que ensinam técnicas e teorias para quem deseja se aventurar nesse mundo da imaginação. Professor em um curso de contação de histórias, em São Paulo, Giba Pedroza fala que atualmente o número de alunos aumentou consideravelmente, atraindo pessoas de áreas diversas. “Quando comecei com o curso, o número de alunos não preenchia uma mão. Hoje, se jogarmos uma pedra irão surgir, no mínimo, umas cinco pessoas para contar uma história. É muito bom observar que essa arte não virou exclusividade de quem trabalham com Literatura ou Educação Infantil, tenho alunos que são engenheiros, enfermeiros, músicos”.

Atividade eficiente para cultivar a criatividade e explorar a manifestação dos sentimentos, o contar histórias permite a fuga da realidade e o mergulho em um universo mágico, construído pela troca de memórias entre quem conta e quem ouve. “Me perguntam como faço para decorar as histórias, não decoro nada, guardo todas elas no coração”, comenta.


1 comentário

  1. Um contador de histórias não decora: guarda tudo no coração…
    A sensibilidade de Giba Pedroza é tocante.
    Parabéns pelo trabalho e iniciativa da equipe do Clube da Leitura!!!
    Que a arte nos mantenha vivos…