Livros digitais e direitos autorais

Por Wanessa Oliveira
Os livros na Internet são mesmo mais fáceis de fazer? Para a professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Flávia Goulart, é preciso antes de tudo deixar de lado o pensamento de que, só porque será publicada eletronicamente, a obra pode ser concebida pulando etapas.
“O que diferencia é apenas o meio para onde o livro é publicado, mas o processo de edição e de normalização é o mesmo”, explicou. Para a professora, que ministrou uma oficina durante a  Bienal do Livro, é necessário entender o propósito dos escritos no computador.
“Quem quiser fazer um blog para disseminar com mais liberdade os pensamentos, pode fazê-lo sem restrições. Já há muitos outros que utilizam também o espaço para divulgação acadêmica. Enfim, hoje já sabemos diferenciar um site científico de outros que não são feitos para pesquisa”, explicou.
Goulart acrescentou que já está disponível aos autores um ‘creative commons’, registro em que o autor da obra eletrônica deixa claro qual tipo de licença vai permitir ao leitor. “Ele pode estabelecer o limite que decidir. Pode permitir apenas a cópia, ou pode permitir que o texto seja modificado de acordo com a preferência de cada um”, comenta. “As pessoas acham que o que está na rede é peixe, mas hoje já se pode ter alguns cuidados ao que se expõe”.
Para a pesquisadora, os livros eletrônicos vivem hoje o que considera um momento de inquietação inicial, que deve ser seguida por uma acomodação. “Um dos maiores desafios é essa adaptação dos livros para vários equipamentos. Por exemplo, o fato de que o ipad só funciona com ebooks, ou o kindle apenas com livros da Amazon. Não há ainda uma interoperabilidade”.
O período emergencial dos livros eletrônicos, segundo Flávia Goulart, também impede que se compreenda quais preços serão atribuídos a uma obra que, por não ser impressa, supostamente tem custos reduzidos de produção. “Ainda não há uma definição de mercado. Todos estão atirando para todos os lados e, só após passar esse período, é que será possível traçar um perfil dos preços”, disse.
Inevitavelmente questionada sobre o futuro dos livros impressos em meio à febre dos eletrônicos, a oficineira, por fim, rebateu. “A questão não é o livro de papel ou o livro eletrônico, mas a leitura. Quem nunca leu um livro impresso, não vai querer ler um no computador. O que posso dizer é que, na editora da UFBA, por exemplo, o livro eletrônico que mais vendemos é também o que mais vendemos fisicamente, é preciso assegurar a leitura, seja qual for o suporte em que ela se encontra”, finaliza.