Por Wanessa Oliveira
“Em dez ou quinze páginas, você já sabe se vai devorar ou rejeitar o livro. Meu orientador sempre dizia que, se você quer que o leitor seja atraído, concentre toda a sua atenção no primeiro capítulo. Nos demais, você pode até diminuir o ritmo, mas o primeiro capítulo é essencial”.
Essa e tantas outras dicas foram conferidas aos espectadores que ouviram o historiador Douglas Apratto ministrando a palestra ‘Como atrair jovens para a literatura e o ofício de escritor’, ocorrida durante a V Bienal Internacional do Livro em Alagoas.
Ao lado da escritora Margarida Patriota, que também compartilhou experiências para inspirar novos escritores, Douglas Apratto apregoou que o marketing das primeiras páginas tem lá o seu valor. “Hoje o escritor lida com a facilidade de produzir o livro, mas com dificuldade de distribuir. Um bom título, uma boa capa de abertura, a beleza e a imaginação não são suficientes. É preciso que se faça também divulgação, seja pela mídia, seja pela internet, por outdoor e, evidentemente, pelo boca a boca”, comentou Apratto.
Para o historiador alagoano, há dois tipos de escritores: os comerciais e os que escrevem pela vontade genuína de escrever. “Schopenhauer tem uma coletânea de 1851. Nesse ensaio, ele conta que há livros de caráter meramente comercial, os tido como best-sellers, e os que escrevem por escrever, que querem comunicar”.
Apratto suaviza opiniões e encontra aprendizados até mesmo em autores tidos como superficiais no Brasil. “Acredito que, se Schopenhauer vivo estivesse, iria defenestrar Paulo Coelho. Aqui no Brasil, há muita rejeição contra ele, mas Paulo Coelho é condecorado em outros países. Se vai a Varsóvia ou até a cidade de Paris, templo da leitura, as livrarias estão cheias de livros dele. Então é claro que ele tem alguma coisa”, relata.
Ao começar a ler as obras do autor, Apratto encontrou algumas fórmulas. “Quis saber o que é o que o carioca tem. Ele começou com um tema de interesse, de vanguarda, que foi a alquimia. O que mostra que é preciso escolher uma temática que interesse ao leitor”, afirma. “O escritor precisa procurar um nicho, um estilo e saber conectar a história. Podem fazer o teste: quando você começa a ler e decide reler o livro, começa a perceber que há livros e livros”.
Bibliotecas acessíveis
Ao folhear um jornal, Douglas contou ter lido a notícia de um estudante que levou uma arma para matar um colega de turma. “Esse rapaz não tem o hábito de ler. Se tivesse, não cometeria esse tipo de ação, saberia que há muito mais no mundo”. Para o historiador, a falta de acesso ao livro é uma das principais causas para o que considera uma tragédia alagoana e brasileira.
“Vivíamos em uma época em que a biblioteca era mais acessível. Nós nos habituamos a ler. Hoje não temos nenhuma biblioteca municipal e a única estadual está fechada há mais de três anos. Não há esporte, não há educação de qualidade e não há, principalmente, o hábito da leitura. Se houvesse, não estávamos com essa grande chaga de analfabetismo, porque o importante não é apenas ter escolas, mas escolas de boa qualidade. E se o hábito da leitura não começar na infância, na escola, as chances de ele entrar numa biblioteca como adulto são difíceis. Ele não vai voltar”.
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