“Todo livro é uma pedreira”

Escritor e jornalista Fernando Morais participa de palestra na Bienal do Livro

Escritor Fernando Moraes durante palestra na Bienal do Livro

O escritor mineiro Fernando Morais, autor de importantíssimas obras de não-ficção como ‘Chatô – O Rei do Brasil’, ‘Olga’, ‘Corações Sujos’, e mais outros sete livros, esteve presente na noite da sexta-feira, dia 28 de outubro, na Bienal do Livro para participar da palestra ‘Jornalismo Literário’, junto com a jornalista e acadêmica Teresa Ribeiro.

Com uma plateia formada principalmente por jornalistas e estudantes de jornalismo, além de pessoas que participam de movimentos sociais, o poeta imortal Ledo Ivo e os consagrados jornalistas Audálio Dantas e Ricardo Kotscho, Fernando Morais falou sobre os diversos temas que sua obra envolve, revelou bastidores da produção dos seus livros, respondeu perguntas do auditório, tudo isso num descontraído bate-papo.

A palestra começou com a fala de Teresa Ribeiro, que já atuou em importantes veículos de comunicação e hoje se dedica à produção acadêmica. A autora elaborou uma tese de doutorado sobre Fernando Morais, em que analisou os livros ‘Chatô’ e ‘Olga’, buscando identificar as características literárias presentes na obra de Fernando Morais, que é essencialmente jornalística, envolvendo um trabalho de pesquisa muito aprofundado. Para a autora, o jornalismo literário é um “gênero híbrido que escapa das convenções canônicas”, ou seja, por se tratar de um mix  de jornalismo e literatura, o gênero pode transitar de maneira igual entre as duas partes dessa combinação sem que isso comprometa o resultado final.

Fernando Morais iniciou sua fala comentando a presença de Lêdo Ivo, segundo ele, um “grande poeta e homem de coragem”, de Ricardo Kotscho e do alagoano Audálio Dantas, que, segundo Morais, salvou sua vida nos anos 1970. Por cerca de meia hora, o escritor contou seu início no jornalismo e os diferentes percalços que fizeram parte da sua vida profissional.

“Quando o cachorro abana o rabo isso não é notícia, já quando o rabo abana o cachorro isso sim é notícia”, afirmou Morais. Foi esse apuro e faro jornalístico que levaram o autor a produzir dez pérolas do jornalismo literário, traduzidas para diversos idiomas no mundo todo. Fernando Morais fez parte de diversas revistas brasileiras, chegando a cobrir eventos como a “Revolução dos Cravos”, em Portugal, e a produzir o material que depois viria a se tornar o livro ‘A Ilha’, onde fez uma detalhada reportagem sobre Cuba, que inicialmente seria publicada em fascículos em uma das revistas para a qual trabalhou.

A atividade de elaborar livros como esse é algo que passa longe de ser algo fácil, por isso Fernando Morais afirma que “todo livro é uma pedreira”, no sentido de que várias pedras precisam ser quebradas para que os fatos venham à tona. No seu livro mais recente, Os Últimos Soldados da Guerra Fria, ele investigou o caso dos sete espiões cubanos que foram presos nos Estados Unidos acusados de espionagem. Morais teve que viajar diversas vezes a Cuba e aos Estados Unidos para saber informações dos dois países, o que fez com que o livro ganhasse o máximo de isenção em seu compromisso de contar uma história tão interessante.

Perguntado se o jornalismo literário tende a morrer com a Internet, Morais afirma que isso é um certo exagero. Se isso fosse verdade, ele não estaria há cerca de 30 anos podendo viver exclusivamente dos seus livros. “A imprensa escrita tem que caminhar em direção à grande reportagem e à opinião”, afirma.

O autor enfatizou bastante a necessidade de formação do jornalista pela atuação nos veículos de comunicação. “Não sou um intelectual, na verdade eu nem tenho curso superior, tudo que eu aprendi foi nas redações dos jornais e revistas por onde passei, meu compromisso é sempre desvendar o que é obscuro, a essência do bom jornalismo é mostrar o que as pessoas não sabem”, conta Morais.

Na sua palestra, Fernando Morais mostrou que é sim um grande intelectual. Com um jeito totalmente despido de arrogância e pretensão, ele mostrou que é alguém que gosta de conversar, que tem esse apreço pelo convívio social, além de ter uma memória fascinante. Todo jornalista e estudante de jornalismo devia conhecer ao menos uma de suas obras, seja qual for a vocação que tenha para determinada editoria. A obra de Fernando Morais segue imortal.


1 comentário

  1. Parabéns pelo texto. Nem sabia que o Fernando Morais viria, senão teria ido. Virei fã dele após ler Chatô – O Rei do Brasil, um documento jornalístico fundamental para entender a vida de Assis Chateaubriand.