A revolução da revista Graciliano

Por Márcio Cavalcanti

Preservar os valores culturais de Alagoas, abordá-los de maneira leve e atrativa para um público cada vez mais fiel e diverso, considerando os aspectos geográficos e sociais do Estado. Esse é o novo sentido da Graciliano, revista da Imprensa Oficial Graciliano Ramos que passou por uma reforma editorial e visual em junho de 2011, com o objetivo de ampliar o seu público para atender não mais apenas aos catedráticos, mas aos amantes da Arte e aos perpetuadores da cultura e da memória alagoanas como um todo.

Graciliano: conteúdo e visual atrativos para um público diverso

A segunda edição da revista pós-reformulação (Edição nº10, Ano IV) ganhou noite de lançamento durante a V Bienal Internacional do Livro de Alagoas, momento em que o diretor-presidente da organização, Moisés de Aguiar, destacou o papel do periódico na sociedade local. “Existia uma lacuna no que se refere à valorização e à divulgação dos atributos e da produção culturais da nossa Alagoas. Daí surgiu o motivo de criar uma revista cultural, literária, que espelhasse os vultos, folguedos e tudo aquilo que representa essa terra”, enfatizou.

Aguiar revela que para a efetivação da reforma da revista, foram necessários investimentos primorosos para dar ao órgão condições de operação. Assim, fizeram-se pesquisas junto aos intelectuais e aos representantes da cultura alagoana, e também aos artistas, artesãos e personalidades de diferentes seguimentos a fim de encontrar a sintonia agradável para novo público.

“Trabalhamos no sentido de aprimorar as qualidades já existentes no formato

Imprensa Oficial: Diretor-presidente Moisés de Aguiar (centro), diretor comercial Hermann Melo (esq.) e diretor administrativo-financeiro Roberto Pedrosa (dir.).

implantado quando da criação de Graciliano, em 2008, que, pouco funcional do ponto de vista estético, dificultava o manuseio e inclusive a documentação”, detalhou Aguiar, ressaltando que será mantida a finalidade preexistente de propiciar a discussão de temas a partir da visão de especialistas num espaço democrático, e fortalecendo a cultura local por meio da revisitação aos bens culturais alagoanos.

 

Investimentos e estratégias

O diretor comercial Hermann de Almeida Melo conta que, além de investimentos em conteúdo, havia que se garantir o aprimoramento do parque gráfico, resultando na satisfação dos antigos anunciantes e na adesão de novos empresários.

“Conseguimos otimizar os trabalhos de impressão, através de novos aparelhos técnicos para atender à demanda emergente. Além disso, os anunciantes se sentiram mais atraídos com o resultado da primeira edição publicada após as mudanças, isso nos fez trabalhar em novos planos de marketing para contemplar esse novo quadro publicitário”, declara.

“Essas novas estratégias, inspiradas em iniciativas prósperas de outras imprensas oficiais brasileiras, incluem a expansão da publicidade e a disposição da revista para assinantes, pois Graciliano deixa de ser apenas um suplemento de cultura, para se consolidar a cada dia como uma revista respeitada na sociedade alagoana” ressalta Melo.

Trabalho intelectual
Segundo a coordenadora editorial, Janayna Ávila, é primoroso o trabalho intelectual realizado pela revista há pouco mais de três anos. Diz Ávila que o periódico se dedicava a abordar em cada edição um tema específico durante todo o exemplar. Porém, com a reforma editorial, conferiu-se o caráter jornalístico à revista, e não mais o científico quando se compunha apenas de artigos especializados sobre um único assunto, ademais, tem agora sessões permanentes.

Janayna Ávila, coordenadora editorial

“Uma dessas sessões é a ‘Documenta’, que traz documentos históricos acerca do tema abordado na matéria principal. Outra é a sessão ‘Saiba Mais’, indicando diversas fontes de informação para quem deseja se aprofundar no assunto”, explica e acrescenta: “Ao longo desses três anos, já abordamos diversos temas que homenagearam personalidades e ícones do acervo cultural de Alagoas. Foram eles Graciliano Ramos, o teatro de Alagoas, Aurélio Buarque de Holanda, o rio São Francisco, dentre outros signos do nosso Estado”.

Conta Ávila que a periodicidade da revista foi outro ponto importante nesse processo de revolução. Anteriormente, a Graciliano não tinha uma periodicidade muito rígida, agora as edições serão publicadas bimestralmente, o que reforçará a responsabilidade e a competência da publicação.

Nova identidade visual

Por entender que a identidade visual da revista precisava ser reafirmada, Graciliano se propôs a trazer em cada publicação uma capa produzida por um artista diferente, em consideração à multiplicidade de expressões artísticas alagoanas. Nesse sentido, Graciliano começou a inovar quando mostrou o trabalho do Estúdio Alba, ilustrador da capa da edição nº 09 (Ano IV).

Herbert Loureiro, designer alagoano integrante do Alba, diz que se preocupou em fazer uma ilustração que transparecesse juventude, criatividade e ineditismo. “Como o tema da matéria principal era ‘memória’, não havia como desenvolver um conceito visual objetivo para representar o assunto. Mas era preciso criar uma ilustração que levasse o leitor a um questionamento do que significaria a imagem. Então, usamos signos diferentes para que causassem um estranhamento”, explica.

O resultado foi um trabalho completamente dominado pela beleza e pela originalidade, e de modo ímpar uniu a ousadia de uma estética riquíssima e amplamente harmonizada com o universo jovem à tradição dos festejos juninos em diálogo com o folclore. E com muita sensibilidade mostrou como esses signos da cultura popular podem conviver harmoniosamente com a urbanidade pós-moderna, com a cidade e os novos modos de vida contemporâneos.

Segundo Loureiro, houve uma boa aceitação do público em relação ao trabalho do Estúdio Alba. “As pessoas reagiram de maneira muito satisfatória. Tratava-se de um público acostumado com um layout muito diferente da nossa proposta. E a nossa ilustração era uma imagem inusitada para esse grupo, mas logo depois da publicação todas as pessoas comentaram da sua satisfação, inclusive nas redes sociais da internet. Agora, o novo caráter visual diferencia a Graciliano de outras revistas na prateleira de uma livraria, pois essa nova identidade gera o desejo pelo questionamento”, enfatiza Loureiro.

“A abertura desse espaço de criação visual na Capa da Graciliano é importantíssima para a manifestação artística em Alagoas. Os artistas precisam dessa oportunidade de valorização de sua obra, sobretudo em se tratando de um veículo de tão grande relevância dentro da sociedade e da intelectualidade alagoanas. Logo depois da publicação do nosso trabalho o retorno foi incrível”, frisa.

Herbert Loureiro e Michel Rios: ousadia em expansão

Inovações gráficas
Ousadia foi também o oxigênio do artista gráfico Michel Rios, que encarou com responsabilidade a missão de dar novo visual ao periódico já consolidado no meio acadêmico. “Considerando a necessidade de abranger a revista para um público maior, fizemos uma pesquisa das grandes publicações brasileiras, nos mais variados gêneros, até chegarmos à forma ideal. Além do tipo de impressão, trocamos o papel por outro de qualidade superior, garantindo maior durabilidade, sendo mais fácil para colecionar”, destaca.

Rios acrescenta que o novo projeto gráfico apresenta leveza dado o seu caráter contemporâneo, tipografia marcante que inspira à leitura e confere um ar de novidade à revista. “O ideal é que ela se mantenha e se afirme enquanto única publicação que valoriza a cultura de Alagoas”, conclui.

Planos futuros
O diretor-presidente Moisés de Aguiar adianta algumas estratégias de expansão da revista Graciliano. “A perspectiva a médio prazo é uma divulgação mais ampla possível, aumentando a tiragem para distribuição também nos municípios do interior do Estado. Iniciaremos por Arapiraca, o segundo pólo econômico alagoano, e cidades do seu entorno”, afirma.

Apenas com duas publicações feitas na nova configuração visual, Graciliano já é admirada fora do Estado, servindo como referencial estético e de conteúdo literário para outras publicações. Quanto a isso, Aguiar é incisivo: “A revista Graciliano está pautada para atender Alagoas com um produto de qualidade, natural que seja visto além fronteiras”, conclui.

A nova edição

Edição nº 10, Ano IV, da revista Graciliano

Seguindo a linha do bom gosto e da exclusividade, o nº 10 (Ano IV) de Graciliano, traz um riquíssimo trabalho de pesquisa dos 26 folguedos populares que integram o folclore alagoano. Como capa tem-se o trabalho singular de Celso Brandão, fotógrafo e documentarista alagoano que oferece uma contribuição importantíssima na documentação imagética das manifestações folclóricas do nosso Estado. Brandão escolheu o folguedo “Bandos”, originário de Chã de Anadia, no século XIX, para sua composição fotográfica.

A edição ainda contém entrevista especial com o antropólogo e curador do Museu Théo Brandão, Raul Lody, que mostra a importância da valorização dos bens culturais na preservação das identidades; reportagem especial detalhando os 26 folguedos do Estado, que se complementa na sessão ‘Documenta’ com um mapeamento realizado pela Universidade Federal de Alagoas, demonstrando a atuação de grupos folclóricos em todo o Estado atualmente.

Mais: perfil do folclorista Théo Brandão, artigo sobre a simbologia do Guerreiro no imaginário popular alagoano, uma reportagem especial mostrando o acervo do Museu Théo Brandão e um esplendoroso ensaio de moda que aborda os principais símbolos do folclore alagoano, numa linguagem sintonizada com o universo pop, dentre outros artigos e reportagens que abordam a valorização da cultura popular das Alagoas.


1 comentário

  1. Márcio, Simone e Cláudia: parabéns pelo site, obrigada pela ótima reportagem! Um espaço importante nessa nova fase da Graciliano.